14. O médium de mesa e o médium de terreiro                                                                                         

                                                                                                                                                                            

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Introdução ao estudo das obras de Ramatís: Estudo da mediunidade 

Um dos principais fundamentos da Umbanda é manter o ambiente eletivo para os pretos e caboclos se 
comunicarem à vontade, na sua vivência regionalista, no seu linguajar pitoresco e truncado, plasmando-se 
através dos cavalos sem quaisquer constrangimentos e na sua forma característica: 
 

ENTIDADE 

MANIFESTAÇÃO CARACTERÍSTICA 

 ÍNDIOS 

saúdam em grande estilo; tornam os médiuns altivos e fortes, capazes de 
movimentos rápidos, quase felinos, e até de saltos vigorosos 

 PRETOS VELHOS 

são curvados, sentenciosos nos seus rifões morais, voz macia, alegres e 
afáveis, no linguajar característico dos velhos escravos do Brasil 

 CABOCLOS 

revelam a finura própria do sertanejo brasileiro e são repentistas, afiados, 
espertos, sinceros e desconfiados, falando no modo original e arrevesado do 
interior 

 
Por isso, os freqüentadores de Umbanda identificam facilmente os pais de terreiro, logo de chegada, por um 
gesto ou toque peculiar na pronúncia de meia dúzia de palavras ou no próprio jeito de incorporar. Já essa 
caracterização mais fiel dos comunicantes não poderia ocorrer junto às mesas espíritas, pois nelas são 
raríssimos os médiuns de transfiguração, capazes de manifestarem, com espontaneidade, a configuração 
exata dos desencarnados. 
 

 
Como quase a totalidade dos médiuns em atividade são conscientes ou semiconscientes, 
qualquer coação ou advertência contensiva no exercício da mediunidade reduz-lhe a 
passividade mediúnica e desperta a condição anímica. 
 

 
Ademais, a disciplina mediúnica junto às mesas kardecistas segue outra orientação, em que é mais 
importante o conteúdo e a natureza moral das mensagens dos desencarnados, do que mesmo 
caracterização quanto ao seu tipo ou personalidade. É da tradição espírita kardecista que os espíritos se 
manifestam pelo “pensamento”, cabendo aos médiuns transmitirem as idéias com o seu próprio 
vocabulário e não as configurações dos comunicantes! Em face do habitual cerceamento mediúnico junto às 
mesas kardecistas, os desencarnados têm que se limitar ao intercâmbio mais mental e menos 
fenomênico
; isto é, “mais ideias e menos personalidade”! Quando o médium é culto, eloqüente e prolixo, os 
espíritos comunicantes também são desembaraçados e intelectivos; no entanto, quando inculto ou lacônico, 
ele então reduz ou desfigura a individualidade do comunicante. 
 
Às vezes, ocorre o paradoxo de espíritos primários se comunicarem junto às mesas kardecistas em 
linguagem escorreita, bom rendilhado verbal e alto nível de idéias, porque dispõem de um médium 
primoroso e culto, enquanto escritores, oradores e cientistas consagrados pela história do mundo, 
transmitem mensagens empobrecidas e de baixo nível intelectivo através de médiuns broncos. 
 

 
Os bons médiuns de mesa ampliam, sinonimizam elegantemente e até clareiam o pensamento 
obscuro dos comunicantes iletrados, enquanto os medíocres ensombram e contradizem os 
nomes famosos com que identificam as suas mensagens. 
 

 

É certo também que existem médiuns psicógrafos excelentes operando na seara espírita, os quais revelam 
através da escrita mediúnica as características fundamentais dos comunicantes, sem necessitar da técnica 
tradicional do desenvolvimento nos terreiros. 
 
 

2. O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO NA “MESA” E NO “TERREIRO” 

 
É bem grande a diferença entre o modo de se desenvolver o médium junto à mesa kardecista e a técnica de 
desenvolvimento do “cavalo” de Umbanda.