14. O médium de mesa e o médium de terreiro                                                                                         

                                                                                                                                                                            

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Introdução ao estudo das obras de Ramatís: Estudo da mediunidade 

Frequentemente se diz que os médiuns se desenvolvem mais rapidamente nos terreiros de Umbanda, do 
que junto à mesa kardecista, onde demoram longo tempo; entretanto, como o desenvolvimento mediúnico 
não consiste numa série de movimentos rítmicos, algo parecidos à ginástica física muscular, o candidato a 
médium deve apurar os seus atributos angélicos, antes da preocupação de se tornar um intermediário 
fenomênico dos espíritos desencarnados. 
Que vale um desenvolvimento mediúnico rápido, se o médium 
ainda não possui nada de útil e bom para ofertar ao próximo? 
 
A faculdade mediúnica não é banho miraculoso capaz de transformar instantaneamente o seu portador num 
sábio ou santo, só porque transmite comunicações do Além. Tratando-se de uma hipersensibilização 
prematura e de prova, 
é o seu próprio agente o mais necessitado de recuperação espiritual, antes de 
cogitar do sucesso do fenômeno. Por isso, há médiuns que demoram junto das mesas kardecistas para 
desabrochar sua mediunidade, pois ainda lhes falta incorporar as virtudes do Evangelho do Cristo, bem 
antes de comunicar o pensamento dos falecidos! Não basta apenas plasmar o porte altivo do índio, a 
configuração servil do preto velho ou interpretar o modo caipira do caboclo, para se comprovar o sucesso 
da mediunidade. Tanto os kardecistas, como os umbandistas, perdem o seu precioso tempo junto de 
médiuns ou cavalos cuja compostura moral é sumamente inferior à sua desenvoltura mediúnica. Que 
vale a taça vazia diante de quem agoniza de sede? 
 
O melhor processo para desenvolver o médium que prefere atuar sob a doutrina espírita ainda é aquele que 
Allan Kardec indicou no “Livro dos Médiuns”;
 no entanto, quem por simpatia, índole espiritual, 
temperamento psicológico ou serviço comprometido no Espaço, escolhe o mediunismo de Umbanda, sem 
dúvida deverá seguir os métodos prescritos pelos “pais de cabeça”, submeter-se à técnica dos “caboclos 
desenvolvedores” e enquadrar-se sob os preceitos ritualísticos das linhas de Ogum, Xangô, Ori do Oriente, 
Oxossi, Oxalá, Iemanjá ou Yori-Yorimá. 
 
O desenvolvimento mediúnico é mais demorado, como fenômeno, junto às mesas kardecistas porque, de 
acordo com os preceitos doutrinários do Espiritismo, os médiuns são advertidos para sustarem qualquer 
manifestação excêntrica ou indisciplinada
. Assim, as comunicações são quase telepáticas e as próprias 
agitações e cacoetes de alguns médiuns são levados à conta de animismo. Deste modo, as mensagens 
mediúnicas da maioria dos médiuns de mesa ficam bastante submissas à maior ou menor cultura e 
capacidade 
dos mesmos. 
 
animismo, ou seja, interferência inconsciente do próprio médium em suas comunicações, pode acontecer 
em algumas mesas espíritas quando certos neófitos enfermiços, histéricos, esquizofrênicos ou 
neurovegetativos confundem o fenômeno mediúnico com as suas próprias manifestações mórbidas
Algumas criaturas inexperientes e até perturbadas, às vezes se transformam em missionários dominados 
pela preocupação febril de “salvar a humanidade”, e assim pontificam na seara espírita como doutrinadores 
ou médiuns, expondo coisas ridículas à guisa de revelações de elevada sabedoria espiritual. 
 
A preocupação fundamental do médium de mesa é evitar exageros, esgares ou módulos pitorescos dos 
comunicantes,
 reduzindo muito a possibilidade fenomênica dos desencarnados manifestarem a sua 
personalidade ou focalizarem as suas características particulares. Não há dúvida de que os médiuns de 
elevado gabarito reproduzem gestos, tom de voz e inúmeras outras particularidades dos comunicantes, 
embora não façam parte de terreiros; no entanto, esse tipo de médiuns, se participassem dos labores 
mediúnicos de Umbanda, indubitavelmente, também seriam os melhores  “cavalos”  de terreiro! 
 
Os umbandistas afirmam que, em face dos métodos de desenvolvimento adotados nos terreiros, os 
médiuns ou cavalos ali são inconscientes e livres do animismo, tão peculiar das mesas kardecistas; 
entretanto, a mediunidade inconsciente é raríssima, tanto nos terreiros como nas mesas espíritas. Essa 
afirmação origina-se do fato de que os espíritos primitivos ou sofredores são mais “possessivos”, porque 
seus fluidos, demasiadamente vitalizados pelo éter-físico da Terra, atuam de modo coercitivo
reduzindo assim algo da consciência dos seus instrumentos. Isso acontece geralmente com as criaturas 
obsediadas, que perdem o domínio de seu corpo e, ao voltarem de suas crises obsessivas, pouco se 
lembram do que lhes aconteceu. 
 

 
Quanto mais sublime é o espírito, tanto menor é a sua ação física sobre o médium e mais 
predominantemente inspirativa é sua comunicação.